O medo de perder alguém que amamos é um sentimento legítimo e humano.
Ele nasce da importância que damos àquela pessoa, da conexão que construímos, dos planos sonhados e dos afetos partilhados. Porém, quando esse medo ultrapassa os limites saudáveis e passa a governar nossas atitudes, ele deixa de ser sinal de amor para se transformar em sinal de alerta. Em nome de manter o outro por perto, muitas vezes acabamos nos afastando de nós mesmos — e isso pode ser o começo do fim, tanto da relação quanto da nossa autoestima.
Em muitos relacionamentos, o medo da perda se manifesta de forma sutil. Você começa a ceder mais do que gostaria, a abrir mão de vontades, a engolir incômodos, a se calar diante de atitudes que te machucam. Tudo em nome da “paz” ou da ideia de que, se você for compreensiva, menos exigente ou mais maleável, ele ficará. O problema é que essa paz geralmente custa a guerra interna de estar constantemente indo contra si mesma.
Quando o medo de perder domina, há um desequilíbrio natural: você começa a fazer demais, esperar demais, aceitar demais. E a relação deixa de ser um espaço de troca para se tornar uma disputa silenciosa entre presença e ausência, atenção e indiferença. Aos poucos, você começa a se moldar ao outro, tentando ser o que ele quer, o que ele precisa, mesmo que isso te sufoque. Você para de se ouvir para tentar ser ouvida. Para de se priorizar, na esperança de ser prioridade.
Nesse processo, a maior perda não é a do outro — é a de si mesma. O medo de perder o parceiro faz você se afastar da sua essência. Seus valores, suas vontades, seus limites, tudo vai sendo colocado em segundo plano. E é aí que mora o perigo: porque quem não se reconhece mais em si mesma dificilmente será reconhecida ou valorizada pelo outro.
Relações saudáveis exigem presença, sim. Exigem cuidado, empenho, reciprocidade. Mas nunca devem exigir o abandono de quem você é. Amar alguém não significa desaparecer dentro da relação. Pelo contrário: o amor maduro acolhe individualidades e fortalece identidades. Ele não cobra submissão, não alimenta inseguranças, não explora o medo. Um amor de verdade te convida a crescer, não a encolher.
É importante lembrar que, por mais que você tente, você não tem controle sobre o comportamento do outro. Você não pode impedir alguém de ir embora, mas pode — e deve — impedir a si mesma de se abandonar por medo disso. Relações que se sustentam em insegurança e medo de perda geralmente não sobrevivem — ou, se sobrevivem, são marcadas por dor, ressentimento e frustração.
O medo de perder só deve existir até o ponto em que ele não te faz se perder. Porque, no fim das contas, não há maior solidão do que estar acompanhada e, ainda assim, sentir-se invisível. Manter alguém ao seu lado às custas do seu próprio bem-estar não é amor — é auto abandono.
Você merece um relacionamento em que não precise implorar por atenção, em que não precise se anular para ser amada. Merece alguém que te escolha todos os dias, não por necessidade, mas por vontade. Alguém que te admire exatamente por quem você é — e não pela versão distorcida que você criou para tentar agradar. erosguia
Portanto, se o medo de perder está te fazendo perder, talvez seja hora de se reencontrar. De lembrar do seu valor, de resgatar sua essência, de reconstruir sua autoestima. Porque, no final das contas, o amor mais importante da sua vida precisa ser o seu.
Fonte: Izabelly Mendes.